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domingo, 3 de outubro de 2010

Pequenas Histórias

Humana


Ouvi o som dos tiros. Passos. Pessoas corriam. Mais Passos.
Chovia muito, o vento era incrivelmente gelado, óbvio, era inverno.
Eu estava parada na porta de casa, esperando Alana - minha irmã mais velha - chegar. Todos estavam em perigo, era a pior guerra em nosso país. Militares, bombas e mortes... Muitas mortes. Eu implorava a Deus que não levassem a minha irmã, ela era tudo que eu tinha naquele momento.
Então, por obra divina, o milagre aconteceu.
- Alana! - Gritei aos prantos. - Depressa! Aqui em casa!
Então ela correu até mim, porém antes que eu pudesse fechar o portão... Ouvi um grito. Sua voz era familiar de longe. Era a pior voz do mundo, a voz que me dava nojo... E ela implorava por socorro.
Eu sou humana. Não sou cruel, nem imprestável. Imediatamente, ao vê-lo sangrar em minha frente, deixei-o entrar. Fechei com força o portão.
- Estou salvando sua vida. - Sussurrei para o rapaz que me enojava. - Mas não me agradeça, nem dirija-me a palavra.
Ele compreendeu, apesar de que eu achava que não era agradecimento que sairia de sua boca.
Anos se passaram, a guerra acabara. Minha irmã estava a salvo... E até onde eu sabia, ele também, graças a mim.
Caminhei pelas ruas de quando era mais jovem, encontrei velhos amigos, joguei cartas num bar e bebi um pouco mais que devia também. E lá estava ele, com sua voz terrível, estragando mais uma vez o meu dia. Veio em minha direção.
- Obrigado... - Sussurrou o homem. - E perdoe-me.
Olhei por um segundo para o rosto dele. Imediatamente virei a cara, dei-lhe as costas e saí rindo... Rindo como nunca na minha vida.
De duas uma: Ou era indiferença, ou eu realmente havia bebido demais.




Rafaela Menezes.

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