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domingo, 3 de junho de 2012

Moradia

 Estar com ele, para ela, era poder fugir de tudo. Estar com ela, para ele, era como se pudesse sentir o gosto da vida, enfim. Os olhos se mantinham colados, os risos sem qualquer modéstia e os toques, refugiados. Ela tinha essa coisa estranha de se sentir em casa dentro daquele abraço, menos em sua casa. Ele fazia questão de estar ali, mesmo daquele jeito irritante, mesmo com todas as coisas odiáveis, detestáveis e repugnantes. É que a vida acontecia ali, sempre, a cada dia, entre eles. Ele estava mal, ela chorava, ele tinha problemas, ela era problemática. Acontece que com ela, ele podia ser feliz, mesmo que tudo indicasse que não poderia acontecer jamais. E com ele, felizmente, ela podia sorrir. Mesmo que quando a noite invadisse, caísse em prantos, chorasse sem cessar, morresse por horas e horas. Por nada. Não era nada mesmo não. É só que aquela cama, aquelas paredes, aquelas pessoas… Bom, ela não estava em casa.


Rafaela Menezes (via tumblr)

terça-feira, 10 de abril de 2012

Coisas vazias

 Encontrei relíquias mexendo em minha mente bagunçada. Ah, estava tão escuro lá, que coragem eu teria de entrar? Ó, vida, onde estão aquelas promessas amassadas e as mudanças almejadas? São apenas coisas vazias agora, são oco e solidão.
 E me fez pensar se eu aguentaria outra vez. E outra. Ou outra. Mais outra. O tempo há de preencher este espaço medíocre. Com risos, verdade e que tornarão-se histórias ao invés de mero passado. Sim, quero um livro da minha mente bagunçada, mas livro de cabeceira e não de estante. Quero lê-lo todos os dias da minha vida. E não terão páginas em branco... Não serão coisas vazias. Coisas ocas. Não serão solidão.


Rafaela Menezes

terça-feira, 3 de abril de 2012

Ainda há

 Não há quem entenda minhas maneiras tortas, meus motivos tolos e minha boca porta. Meus medos vazios, as noites e os dias, os meus arrepios. Ninguém compreende minhas águas salgadas, porque não as seco, porque as afago. E ainda há quem diga que eu estou errada, pelos motivos errados e certa feita concordei.
 Meus poços são escuros, pareciam rasos, mas me afoguei. E os pedaços de bolhas que continham meu ar, foram subindo até meus olhos se fecharem.
 Alguma mão irá me erguer? Ou erguerão os cantos dos lábios para me amparar? Então, por favor, pegue a minha chave. Abrirei a porta. Nada aqui em minha vida está emperrado.


Rafaela Menezes

Agora

Eu quero agora
Minha pele na tua,
Ver a lua nua,
Deitar no chão frio da sala.
Eu quero agora
Tua retina no escuro,
Interromper tua fala.
E se tua boca quiser falar com a minha,
A gente cala.


Rafaela Menezes

domingo, 25 de março de 2012

Era mesmo

 E era mesmo para que a luz invadisse a casa e destruísse esse ar. Ar apertado, mal respiramos, levanto a cabeça e nada encontro. E se, de repente, a cortina não soubesse mais se fechar, se as portas estivessem sempre abertas, se eu não precisasse mais esconder a verdade atrás de um mero riso... Será que as almas funcionariam?
 Era para as músicas ecoarem nas vidas, que as tristes não trouxessem tristeza, que todas trouxessem reflexão. E que as boas pessoas estivessem sempre perto e, principalmente, juntamente com elas, a compreensão. Era para a leveza estar sempre presente. E também a verdade.
 Era para que eu estivesse viva agora, mesmo com a parte que levaram de mim. Não sabes, mas todos os dias desejo-te bem. Peço para que a luz invada tua casa e destrua esse ar. Para que respire neste ar apertado, levante a cabeça e encontre algo.

 Rafaela Menezes

segunda-feira, 19 de março de 2012

Dói (apenas desabafos)

 Ninguém jamais irá compreender. 
 Não importa o quanto eu tenha tido dificuldades, não importa quantas tragédias tenham me acontecido, nada dói mais do que ver quem amo chorar uma dor por mim. Não poder confortar. Saber que um abraço não resolveria. Nem nada. Porque não há conforto.
 Sempre detestei que tivessem pena de mim, nunca achei necessário. Sim, continuo chorando pelo mesmo motivo que me assombra a cada dia de minha vida... Mas não é por mim. Choro por cada lágrima que vi cair e não pude amparar.


Rafaela Menezes

domingo, 18 de março de 2012

Sou

Posso trancar-me, ranger ou falar
Sou boca entreaberta no teu despertar
Sou respiração e mãos para as mesmas sentir
Lágrimas no travesseiro quando não estás aqui
Sou faca, sou corte, sou vida, sou morte
Da tua despedida, sou o reencontro
Tantas vezes azar, mas tanto quanto tua sorte
Não ser medo, tampouco ciência
Sou tão intensidade quanto sou essência
E mesmo que o esforço seja tua clemência
Dormirei em paz, ó vida, por ter paciência.


Rafaela Menezes